19 março 2009

Crise derruba em 40% o lucro das empresas no Brasil

Portal EXAME - Por Francine De Lorenzo 19.03.2009 08h40

Setor imobiliário foi o mais afetado, mas empresas de energia, saneamento e telecomunicações conseguiram crescer

Um estudo da consultoria Economática mostra que, no conjunto de 102 companhias que já divulgaram resultados até o momento, a queda no lucro líquido foi de 40%, passando de 7,4 bilhões de reais no terceiro trimestre para 4,4 bilhões de reais nos últimos três meses de 2008. O movimento ascendente foi interrompido principalmente pelo impacto das despesas financeiras, que de um trimestre para outro saltaram 35% devido à valorização do dólar. Entre julho e setembro, quando o impacto do câmbio já era sentido, as despesas financeiras comiam metade do lucro das operações das empresas. Esse número subiu para 67,5% no quarto trimestre, quando a situação se agravou não só pela escalada da moeda americana, mas também pela queda nos ganhos operacionais. "O custo de produção das empresas que importam matérias-primas deve ter subido, enquanto outras companhias podem ter reduzido os preços de seus produtos para não perder vendas", explica o presidente da Economática, Fernando Exel.

O lucro das operações minguou 16,8% de um trimestre para outro, reflexo da queda de 3,1 pontos percentuais na margem de lucro, que passou de 16,5% para 13,4%. É verdade que houve aumento nas vendas, como tradicionalmente acontece no quarto trimestre devido às festas de fim de ano. O crescimento, porém, ficou bastante abaixo do habitualmente visto. A receita das empresas subiu apenas 3% entre o terceiro e o quarto trimestre, menos da metade dos 7,9% registrados no mesmo período de 2007.

Fortes perdas

O setor imobiliário foi o mais prejudicado pela crise global, segundo o levantamento da Economática, que não inclui Petrobras, Vale e os bancos. As construtoras e incorporadoras saíram de lucro no terceiro trimestre para prejuízo no quarto, numa variação negativa de 177,6%. Os números ainda não contemplam os resultados de Rossi, Cyrela, PDG Realty, MRV e Inpar. "A situação pode ficar ainda pior", diz o analista da corretora Fator, Eduardo Silveira.

O economista-chefe da consultoria Lopes Filho, Julio Hegedus, explica que as pessoas estão preferindo não entrar em financiamentos longos devido ao medo de perder o emprego. A brusca redução na demanda, segundo Silveira, provocou queda na velocidade de vendas e, consequentemente, aumento nos estoques. As empresas passaram a cancelar lançamentos e a rever estratégias que, até então, contemplavam gastos maiores na expectativa de crescimento nas vendas. "A mudança de cenário macroeconômico foi muito rápida. Até setembro, as vendas vinham subindo", diz Silveira.

O crédito escasso obrigou as empresas a pagar mais na captação de recursos para suas operações, o que também reduziu as margens de lucro. Além disso, o ajuste nas regras contábeis contribuiu para o fraco desempenho do setor.

Na indústria química os prejuízos não são novidade. No terceiro trimestre, o setor já registrava perdas de mais de 1 bilhão de reais, mas no quarto trimestre a situação piorou e os prejuízos mais que dobraram. A gigante Braskem chegou a reduzir sua capacidade de produção a 55% em função da queda de demanda, que atingiu tanto o mercado externo quanto o interno. "As empresas que compram as resinas para produção de plástico não renovaram seus estoques na expectativa de que os preços no mercado internacional continuassem caindo", explica o analista da corretora Ágora, Luiz Broad.

Já as siderúrgicas, embora também tenham sofrido com a crise, foram menos prejudicadas. O desaquecimento da economia global reduziu em 33,5% o lucro líquido do setor ao provocar uma queda de 20,3% nas receitas. Na tentativa de minimizar as perdas, as empresas direcionaram as vendas para o mercado interno, onde não houve redução de preços. A demanda fraca, entretanto, obrigou-as a realizar ajustes na produção. O resultado operacional encolheu 51,5% entre o terceiro e o quarto trimestre, passando de 5,2 bilhões de reais para 2,5 bilhões de reais, e a margem de lucro despencou 11,1 pontos percentuais, de 28,4% para 17,3%.

Resultado positivo

Nem todos os setores registraram perdas entre o terceiro e o quarto trimestre do ano passado. As empresas de energia, saneamento e telecomunicações mantiveram seu ritmo de crescimento apesar da piora no cenário econômico. "Esses setores têm uma demanda pouco elástica. As pessoas não vão deixar de consumir energia, água e telefone por causa da crise", diz Hegedus.

O lucro líquido das empresas de energia elétrica e saneamento cresceu 21,7% do terceiro para o quarto trimestre, passando de 1,6 bilhão de reais para 1,9 bilhão de reais. A receita líquida evoluiu 5,4% no período e atingiu 10,74 bilhões de reais. Nas teles, os resultados foram mais modestos, mas ainda positivos. O lucro líquido cresceu 12,5%, para 1,5 bilhão de reais, e a receita líquida subiu 3,4%, para 22,6 bilhões de reais.

As três lojas de vestuários analisadas também não têm do que reclamar. O aumento no lucro líquido foi de 303,7% no período, com crescimento de 3,6 pontos percentuais na margem de lucro operacional, que chegou a 12,7% no quarto trimestre. "Houve muita promoção de roupas no final do ano", lembra Rafael Cintra, analista da Link Investimentos.

http://portalexame.abril.com.br/financas/crise-derruba-40-lucro-empresas-brasil-429276.html

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